(Do blog de Leonardo Sakamoto)
Aeroportos se transformaram em acampamentos por conta dos atrasos e cancelamentos de vôos da Gol nos últimos dias. Pela forma como a justificativa da empresa foi dada ao público, ficou parecendo que a responsabilidade pelo ocorrrido é dos trabalhadores e seus direitos trabalhistas.
Diz o comunicado no site da companhia aérea: “(…) algumas tripulações atingiram o limite de horas de jornada de trabalho previsto na regulamentação da profissão e foram impossibilitados de seguir viagem, gerando um efeito cascata. A situação, desenvolvida num fim de semana de pico de movimento, com retorno de férias escolares, ocorreu num momento em que a empresa finalizava a implementação de um novo sistema de processamento das escalas dos pilotos e comissários.”
Há um inversão no parágrafo com a consequência se tornando causa. Vôos atrasaram porque faltou tripulação ou porque não houve competência gerencial para prever impactos causados pela mudança de um software? A culpa é da regulamentação da profissão dos aeroviários, que impõe um limite de jornada de horas de trabalho (lembrando que da sanidade física e mental deles depende a nossa), ou da empresa? Operação-padrão com indicativo de greve é causa ou consequência dos atrasos?
Vamos reescrever o parágrafo do comunicado, fazendo uma leve inversão: “A empresa escolheu um período de pico, o fim das férias escolares, para finalizar a implementação de um novo sistema de processamento das escalas dos pilotos e comissários. Infelizmente, não haviam sido avaliados os impactos dessa mudança na escala de trabalho e algumas tripulações atingiram o limite de horas de jornada de trabalho previsto na regulamentação da profissão, sendo impossibilitados de seguir viagem, o que gerou um efeito cascata.”
Sutil, né? Mas faz toda a diferença.
ESPERO QUE ESSES MESMOS PASSAGEIROS QUE PASSARAM PELA SITUAÇÃO DESAGRADÁVEL NÃO TENHAM COMEMORADO A ESCOLHA DO BRASIL COMO SEDE DA COPA. EXPERIMENTARAM NA PELE A FALTA DE ESTRUTURA E SERIEDADE DO PAÍS.
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